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Dicas
Velejadoras quebram tabu e provam que a vela é um esporte sem gênero
Alguns meses antes da 40ª edição da Rolex Ilhabela Sailing Week, disputada entre os dias 6 e 13 de julho de 2013, Renata Bellotti e Tatiana Ribeiro conversavam no Yacht Clube de Ilhabela. As amigas e velejadores comentavam que velejar convidadas nas embarcações dos “meninos” não era o mesmo que velejar num barco feminino, 100% feminino. A ideia de inscrever um barco só de mulheres na Semana de Vela de Ilhabela cresceu, junto com a vontade das de Renata e Tati, que foram atrás de outras velejadoras para montar uma equipe que disputaria na classe HPE 25. Logo, tinham reunido Fernanda Decnop, Larissa Juk e Andrea Rogick.
A divisão das funções a bordo foi fácil, explica Renata. Velejadora da classe Snipe, sempre foi timoneira e fez questão de assumir o posto em sua própria equipe. “Minha paixão sempre foi o leme,” revela. Fernanda ficou como trimmer da mestra e dividiu o posto de tática com Renata. A experiência da velejadora na classe Laser Radial, que está em campanha olímpica para os Jogos do Rio 2016, foi muito importante. Tati assumiu a regulagem da genoa e do balão por ser a mais forte da equipe. Larissa, considerada a melhor proeira do Brasil por Renata, não poderia ficar com outra função. E a nova na HPE 25 Andrea, muito ágil, entrou como auxiliar de Larissa.
A parte mais difícil foi conseguir patrocínio, desafio que todo atleta profissional enfrenta. A ajuda veio de quem conhece bem as dificuldades da vela: Breno Chvaicer, que também compete na HPE com o veleiro Ginga, apoiou as meninas, que navegariam no barco da empresa Alfa Instrumentos. “Já conhecia a timoneira Renata Bellotti, através do Juanito [namorado da velejadora] que veleja conosco no Ginga. Foi proposta a ideia de um patrocínio da Alfa Instrumentos, que achamos oportuna e viável”, conta Breno. Conquistado o patrocínio, começaram os treinos, que não foram tantos e tão frequentes quanto as velejadoras gostariam, já que nem sempre as agendas das garotas batiam.
Quando finalmente chegou a hora de entrar na água, a sensação de euforia e nervosismo dominava, especialmente porque a primeira regata foi bastante difícil. As condições de vento não ajudaram nenhuma das equipes em nenhuma das classes, e a equipe do Alfa foi uma das que não conseguiu terminar a prova. A situação mudou no segundo dia de regatas, a terça-feira de condições intensas que causou estragos em muitos veleiros. Como comandante, Renata seguiu uma linha mais cautelosa que rendeu uma boa prova. “Chegamos em quarto na boia, foi a maior emoção”, lembra a velejadora. A equipe terminou a prova em sexto, um de seus melhores resultados durante a Rolex Ilhabela Sailing Week.
As provas seguintes foram duras também e as meninas conseguiram se manter dentro do seu objetivo, o top 10, até o penúltimo dia de regatas. No último dia de provas, as velejadoras acabaram caindo para a 11a posição, mas saíram da água como se tivessem conquistado o primeiro lugar. “A gente sempre espera ir bem, mas a gente não esperava ir tão bem. Não teve nenhum erro dentro do barco, não teve nenhuma manobra errada,” comemora a comandante e idealizadora da equipe. “Ficou um gosto de quero mais,” completa.
2014
E a fome de competição deve ser satisfeita na próxima edição da Semana de Vela de Ilhabela. Renata confessa que os compromissos fora da raia não permitem que a equipe treine com tanto empenho quanto gostaria ainda em 2013, mas os planos para 2014 é reunir a equipe logo no começo do ano: “Vamos competir em todas as regatas para nos preparar”. E a equipe continuará a mesma, garante a timoneira, que viu uma boa sintonia entre as velejadoras.
Breno Chvaicer acredita que com um pouco mais de treino a equipe consegue facilmente ficar entre as cinco melhores, pois todas as velejadoras ‘têm um excelente nível técnico”.
Aceitação
Renata conta que desde o começo a equipe feminina foi bem recebida, com pelo um “Que legal!” dos rapazes que a ouviam falar de seus planos, mas revela que o tom da fala dos rapazes mudou depois que eles viram o desempenho das velejadoras dentro da água. O “Que legal!” ganhou mais ânimo e ela sentiu que os velejadores não conversavam com ela como atleta mulher, mas como atleta, de igual para igual. “Tiraram o gênero da conversa,” afirma a timoneira.
Tem sempre um ou outro velejador que não gosta de ver mulher na raia, mas infelizmente para eles a equipe feminina veio para ficar e incomodar.
Marília Passos para Bombarco
Foto: Fred Hoffmann/PecciCom